Elizabeth Giron Cima
Luci Suzana Bedin Amorim
INTRODUÇÃO.
Para Milton Santos (2003), difusão de
inovações torna-se um processo decisivo para os países subdesenvolvidos. Nos
Países industrializados este fenômeno ocorreu de maneira organizada em todas as formas de
modernização.
As inovações pressupõem a mudança, mas o
problema, para o autor, é a mudança dirigida ou planejada, que, segundo E.
Roger e F. Shoemaker (1971) apud Santos (2003), é provocada externamente pela
introdução de novas ideias. Nesse sentido, o autor cita como exemplo a imitação
do modelo dos países desenvolvidos por parte dos países do terceiro mundo como
necessidade mais do que como uma escolha.
Definição
de Difusão e Inovação
A mudança tecnológica vista como um
processo envolvendo principalmente a inovação e a difusão de novos processos ou
produtos cresceu significativamente durante os últimos anos.
Para os modelos tradicionais, a difusão
é considerada como estando num nível de análise diferente do da inovação. Senso
assim, compreende-se que os estudos de difusão inscritos dentro destes modelos
não consideram o processo de inovação, mas começam a partir de um ponto em que
a inovação já está em uso. Isto significa dizer que a mudança tecnológica é
entendida por esses modelos como um processo envolvendo primeiro a geração e a comercialização de
grandes inovações, e, segundo, a aplicação mais ampla dessas inovações num
processo gradual definido como o de
difusão (THIRTLE e RUTTAN, 1987).
Tais modelos, nas suas dimensões, supõem
que a geração e a comercialização de inovações são negócios de países
desenvolvidos, e que nenhum país pode inovar antes de alcançar os limites
tecnológicos internacionais. Neste sentido, os países em desenvolvimento são
vistos como sendo caracterizados pela ausência de inovação tecnológica
(HERBERT-COPLEY, 1990; UNCTAD, 1996) e, portanto, envolvidos essencialmente na
difusão internacional de nova tecnologia.
Nos modelos recentes , o processo de
difusão de novas tecnologias é caracterizado não só pelo crescimento gradual de
adoação destas pela população, mas também por seu caráter cumulativo. Neste
sentido, a difusão é considerada interligada à inovação (ROGERS, 1983; THIRTLE
e RUTTAN, 1987; BIGGS, 1990; BELL e PAVITT, 1992).
A difusão de inovações e o desenvolvimento econômico
regional.
A realização de um estudo teórico em
economia Regional requer que se enfrente o desafio metódico relativo à
definição do objeto em análise. A região pode ser pensada sob qualquer ângulo
das diferenciações econômicas, sociais, culturais, políticas, geográficas,
antropológicas e históricas. O conceito de região está presente nesses vários
domínios da ciência. No entanto, é no aspecto geográfico que se encontram
enraizadas a tradição conceitual de região no sentido mais amplo.
A pesquisa sobre a difusão espacial das
inovações teve uma tendência fundamental empírica. De acordo com Santos (2003),
os Suecos Hagerstrand (1952) e Goldlum (1951) desenvolveram dois tipos de
modelos de processo de difusão: 1) modelos
indutivos, e 2) modelos probabilísticos.
Hirschmann (1961) introduziu na ciência
econômica os primeiros estudos sobre difusão, e a define como efeitos de
propagação da distribuição espacial do desenvolvimento econômico. Esses efeitos
seriam decorrentes da interação espacial entre as regiões desenvolvidas e
subdesenvolvidas.
Para Schumpeter (1982), economista
precursor da teoria do desenvolvimento capitalista, o elemento central para a
compreensão da dinâmica da evolução capitalista e é a inovação. Sua grande
contribuição está na concepção da existência de ciclos econômicos, em que as
depressões econômicas resultariam de pontos baixos desses ciclos, e o estimulo
para um novo ciclo econômico partiria principalmente das inovações tecnológicas
desenvolvidas por empresários empreendedores.
A rigor, essa capacidade de absorção
depende de alguns fatores determinantes na região em face dos custos referentes
à adoação do progresso técnico, como os elementos socioeconômicos e a
mentalidade dos empresários em relação aos investimentos a serem realizados.
Para Santos (2003) o processo de
desenvolvimento é histórico, e está associado ao momento histórico da região.
Nesse sentido estão as idéias de Furtado (2001) sobre o desenvolvimento, cuja
contribuição foi a de combinar uma concepção ampla de processo histórico do
desenvolvimento com suas implicações sociopolíticas. Para ele, o
desenvolvimento econômico significa mais do que o simples crescimento da
economia ou acumulação de capital, porque, alem de representar o incremento da
capacidade produtiva, implica também a irradiação do progresso para o grosso da
sociedade, no sentido de homogeneizá-la. E afirma que a única alternativa para
a modernização é o desenvolvimento.
A difusão de inovação é a própria
essência da modernização e do desenvolvimento dos sistemas sociais.
Boisier, citado por Coraggio (1985),
entende que a estrutura social do sistema deve conectar-se em maior medida aos valores modernos que aos valores
tradicionais. A estrutura social deve ser favorável à mudança. Necessariamente,
o processo de modernização e mudança de uma sociedade em desenvolvimento está
conectado mais intensamente às variáveis políticas que as variáveis econômicas
ou técnicas.
A problemática da organização do espaço e do
desenvolvimento regional.
A
análise regional, alguns anos atrás, desenvolveu-se em duas vertentes principais: A Teoria da localização e as teorias do crescimento/desenvolvimento
regional. A primeira segue a teoria da produção dentro da
abordagem microeconômica, a segunda teve como base a tradição Keynesiana.
A
teoria da localização evoluiu a partir de varias teses.
A base das análises desses autores está em
considerar a importância fundamental dos custos de transporte para determinação
da localização ótima da firma.
As teorias de crescimento/desenvolvimento
regional fundamentam-se na tradição de Keynesiana. A região passa a existir
para o resto do mundo a partir do momento em que comercializa seus produtos
alem de suas fronteiras. O seu crescimento/desenvolvimento será em decorrência
do dinamismo dessa base de exportação e da difusão desse dinamismo para o resto
da economia regional.
As
políticas públicas de desenvolvimento regional sofreram grande influência
dessas teorias a partir da década de 1950, buscando a adequação à realidade por
meio de estudos analíticos.
Teorias da
localização
No
período de 1960 e 1970, acreditou-se que a solução para problemas econômicos e
sociais dos países em desenvolvimento seria o fortalecimento de um ou mais
polos de crescimento. Para Andrade (1987), Perroux esclarece que o pólo e o
centro dinâmico de uma região ou de um país
e que seu crescimento se expande para a região de seu entorno. Sendo
assim, o desenvolvimento regional estará sempre ligado ao seu pólo.
A
teoria mais intensamente estudada referente ao crescimento urbano, segundo
Richardson (1975), é a teoria dos lugares centrais. Conforme a teoria, o
crescimento da cidade depende de sua especialização, em que a principal
função d cidade é atuar como centro de
serviços para o interior imediatamente próximo a ela.
A
Teoria dos Lugares Centrais.
A
teoria dos lugares centrais apresentada pelo geógrafo alemão Walter Christaller,
na década de 1930, é de conteúdo econômico e a mais difundida sobre o
crescimento urbano. Conforme a teoria, o crescimento da cidade está relacionado
a sua especialização em vários tipos de serviço urbanos, e o nível de demanda
de serviços urbanos sobre a área atendida é que determina o ritmo do
crescimento dos lugares centrais. É uma teoria geral, pois não somente explica
o crescimento interno de uma cidade individualizada mas também a distribuição
espacial dos centros urbanos na economia regional e nacional.
A
principal função da cidade é atuar como centro de serviços à região de
proximidade ou região complementar, distribuindo inúmeros bens de serviços ao
seu entorno.
Christaller
trabalha dois conceitos – chave que
determinam por que certos bens e serviços só o centro oferece e os fatores que
afetam as dimensões do lugar central, que são o limite crítico de demanda de
alcance do bem ou serviço. O conceito de limite crítico expressa o nível mínimo
de demanda que asseguraria a produção de um determinado bem ou serviço e a
partir do qual se passa a ter rendimentos crescentes. O alcance de um bem ou serviço depende de vários
fatores, mas a distância econômica é seu determinante principal, ou seja, é a maior distância que a população dispersa se dispõe a percorrer para adquirir
um bem ou utilizar um serviço (RICHARDSON, 1975).
O
Conceito de Pólo de Desenvolvimento e
Pólo de Crescimento
Perroux,
em sua concepção original, conceitua pólo de desenvolvimento como uma agregação
de indústrias propulsoras, geradoras de efeitos de difusão (com influência
direta no aumento de emprego) em uma região maior. E afirma que o crescimento
não se difunde de maneira uniforme entre os setores de uma economia, mas que se
concentra em certos setores, com efeito, em indústrias de crescimento
particulares. Estas indústrias tendem a formar aglomerações e a dominar outras
indústrias que se conectam a elas, gerando efeitos de difusão em outras
indústrias, elevando assim, o produto, aumentando o emprego e a tecnologia, e
se chamam indústrias motrizes; o pólo de desenvolvimento é o agrupamento dessas
indústrias propulsoras (HIGGINS, 1985).
Dessa
forma, é necessário haver pelo menos um pólo de desenvolvimento ou uma região
propulsora em cada sistema, para que
haja crescimento econômico neste sistema.
Análise e discussão dos resultados
O grande desafio das teorias do
desenvolvimento regional é viabilizar a transmissão dos impulsos econômicos
originados nas regiões centrais para as periféricas ou mais pobres. As estratégias nacionais de
desenvolvimento regional para toda a
America Latina nas décadas de 1950 e 1960 tiveram como base a teoria dos pólos
de crescimento.
Já no final da década de 1960, a maioria
dessas estratégias sofriam críticas severas por ser unilateral em seu
planejamento das soluções propostas e por deixar quase que completamente de
lado os problemas sociais inerentes ao planejamento regional.
Entretanto, o pensamento que prevalecia
na adoação das estratégias de desenvolvimento regional com base na teoria dos
pólos de crescimento levava m em conta a industrialização e a urbanização como
principais fatores de crescimento econômico. Acreditava-se qua a aceleração
desse crescimento fosse responsável pela solução de todos os problemas sociais
econômicos.
Aydalot (1985) argumenta que certas
forças convergentes que aparecem no campo da técnica e na organização têm
determinado as estruturas espaciais caracterizadas pela teoria dos pólos de
crescimento. No entanto, um pequeno numero de grandes empresas domina um grande
numero de pequenas empresas; este reagrupamento acontece devido ao fornecimento
de matéria-prima, mão- de- obra qualificada e infra-estrutura.
Nesse sentido, o autor justifica que
grandes empresas são capazes de salvar uma região mediante a abertura de uma
planta industrial, aumentando, consequentemente, os níveis de emprego, renda
per capita, gerando bem-estar à população, aumentando divisas, enfim,
contribuindo para o desenvolvimento sustentado da região.
A importância da teoria dos lugares
centrais prioriza a cidade como um meio difusor de inovação compreendido como
resultado de forças econômicas, sociais e culturais que determinam a vida
humana numa sociedade complexa, avançada e urbanizada.
O crescimento econômico manifesta-se na
cidade-região pela expansão dos limites da cidade central e pelo aparecimento
dos centros especializados.