A velocidade hoje nos obriga a ignorar grande parte das
ferramentas que nós temos e aprendemos. Muita gente quer dominar o saber, mas
não quer aprender, porque toma tempo. Foi assim que o professor Sigmar Malvezzi
começou a abordar os paradigmas e possibilidades de um líder. Liderança é um
instituto milenar, mas é um conceito
recente, abordado pela primeira vez em 1904 e no mundo dos negócios a partir da
década de 60.
O estudo da liderança se dá a partir das gangues e na década
de 90 ganha status "de príncipe", ou seja, questão estratégica, muito
por conta do processo de globalização.
Pensar tem uma velocidade muito inferior aos processos em
que estamos envolvidos (e-mails, celular, por exemplo). Aí seria uma boa
oportunidade para fazer uso das ferramentas de que dispomos. Liderança não é
uma ferramenta portátil. Num determinado ambiente podemos ser líderes
reconhecidos e em outros não. Há um processo de (re)construção constante,
buscando sempre uma intervenção e uma forma de agendamento social.
Como muitas vezes não há tempo de construir a liderança,
usa-se da autoridade. É mais fácil e também dá algum tipo de resultado, como
defendido por Maquiavel, em "O Príncipe". Ali o ensinamento é sobre
como mandar e não liderar. E são 3 os instrumentos de poder, capazes de
influenciar o outro, alterando sua conduta, a partir de uma autoridade,
reconhecida como tal pela posse e utilização legitimadas desses instrumentos:
- Força física (poder coercitivo) - poder alienante. Independe da vontade do outro e não leva à liderança
- Satisfação das necessidades (poder utilitário) - poder do gerente, da barganha. Também distanciado da liderança.
- Valores e significados (poder referente ou normativo) - subjetividades que encaminham a liderança
Enfim, um conceito apregoado de liderança seria
"Influência(uso eficaz do poder) exercida por algumas pessoas sobre outras
para criar a sinergia requerida para ações conjuntas em busca de metas em
comum, gerando competências coletivas". O que importa não são as
características do líder e sim a forma como ele usa tais características,
legitimado por demandas, valores e significados correspondidos.
Teríamos, então, 3 modelos de sinergia:
- Coordenação - sinergia funcional, somente de "corpo", sem criatividade.
- Co construção - não há a formação de grupo, mas sim atuações individuais com uso de ferramentas comuns.
- Cooperação - é o que busca a liderança.
E o que seria "negócio" hoje? É uma ação coletiva,
com uma montanha de processos, com sistemas diversos, que demandam uma sinergia
entre equipes interdependentes. Hoje a gestão de negócios é um contínuo
movimento de articulação, capacitação, avaliação, projeção, crescimento.
E a gestão se faz por modelos. Até final do século XX
prevaleceu a engenharia burocrática. Hoje a fluidez das estruturas demanda
racionalidade da qualidade pela ação afirmativa. Nada melhor e mais comum do
que o que começou com as feministas, na década de 60.
Como explorar tempo, produtividade, inovação, criatividade,
autonomia, sinergia e compromisso? Liderar é agenciar um conjunto de elementos,
com equilíbrio entre custos e produtividade. No contexto atual, a influência
das instituições totais (lei, avô, pai, igreja, por exemplo) vêm sendo
substituída pelos agenciamentos sociais, com a dependência de lideranças,
contratos psicológicos e identidades pressupostas.
Melhor prática é uma espécie de competência portátil.
Sabedoria é saber olhar o que fizeram, saber customizar para o seu caso, sempre
com um olhar no futuro. A fragmentação da produção e flutuações conjunturais
facilitam a produção de racionalidades diversas que afetam o desempenho. Por
isso é necessário cada vez mais agir com equidade, justiça, oferecer apoio
(operacional, técnico, político e afetivo) e dar reconhecimento (material,
simbólico e social).
Com a realidade do "Profissional nômade", há que
se buscar o equilíbrio do individuo continuamente ameaçado e sua sobrevivência
depende de ininterrupta revalidação. Tomar especial cuidado com a nossa própria
identidade é crucial uma vez que as competências são continuamente reconstruídas,
os contratos psicológicos ajustados e as trajetórias adaptadas.
Outra alteração substancial no modus operandi do mundo dos negócios vem sendo a desintegração do
emprego, como o conhecemos desde do final do século XIX (conjunto de tarefas mais
ou menos integradas). Um paralelo interessante pode ser feito com a família
atual, em que não há os mesmos vínculos e referências de um passado recente.
Um indivíduo que não sabe ser autônomo, não tem criatividade
e nem motivação, pode ser considerado um profissional de segunda categoria.
Vínculos fracos com as instituições de hoje podem ser supridos por contratos
psicológicos e por líderes.
Liderar exige aprender a construir e reconstruir narrativas.
Muitas vezes sem discurso, apenas com o agir. Há casos em que participamos de 3
reuniões e temos que ser 3 pessoas diferentes.
Uma questão interessante abordada foi a do
"brinquedo" - elemento fundamental na vida das pessoas. Há várias
formas de "brincar", milhões de fontes de prazer. O prazer tem a
função de integrar a pessoa em si. Nós somos seres que temos ciclos. Sem o
prazer vamos nos desintegrando. Além disso, os brinquedos estão ligados aos
nossos ideais de ego.
Referências cinematográficas utilizadas na aula - Filmes O Segredo de Santa Vitória, O
Nome da Rosa, Nascido para Matar e Phone Booth.
Apresentação da aula AQUI (reprodução autorizada para esse blog pela FDC).