terça-feira, 12 de junho de 2012

Macroambiente, Cenário e Perspectivas


O professor Antônio Correa de Lacerda, economista e articulista do Estadão e do Terra Magazine, já iniciou sua fala colocando que Informação não é conhecimento e sim um pré requisito para tal. Não adianta estar cheio de bons inputs, se não conseguirmos processá-los de alguma forma.

A abordagem perpassaria por vários números, indicadores, gráficos e comparativos, não sem antes fazer um breve esforço histórico sobre a economia internacional. Com isso, passamos por 1944 - Grande momento definidor da economia mundial. Metade da economia mundial está destruída e ocorre a Conferência de Bretton Woods. Cria-se o FMI e define-se o padrão dólar-ouro como referência mundial. Finca-se a supremacia norte americana financeira, político-militar, e tecnológica-inovativa. Inicia-se o período de "30 anos gloriosos" ou "anos dourados".

Já em 1971 o Presidente Nixon rompe unilateralmente com o acordo de Bretton Woods. Até então os signatários limitavam sua emissão de moeda ao ouro que tinham para lastrear. Nixon rompe com isso e passa a emitir moeda sem lastro. Aumenta enormemente a liquidez dos Estados Unidos.

Em 1974 e 1979 houve os dois choques de petróleo, quando o Brasil consumia 90% em petróleo importado. A inflação aumenta muito e os juros internacionais sobem de 6% para 21%. O Brasil já devia U$ 100 bi, contratados a juros flutuantes. O modelo e desenvolvimento até então vigente sofre um baque enorme. Iniciamos o período das "décadas perdidas".

Nas décadas de 90 a 2000 vivenciamos o auge da globalização e a emergência das crises. Também ocorre a expansão enorme dos fluxos de capitais, bem desproporcional em relação à atividade produtiva. Previdência privada e fundos de hedge pipocam mundo afora. Aumenta a volatilidade pela facilidade de mudança de mãos do capital, fruto de um mercado globalizado.

Finalizando esse processo, temos, em relação à esfera produtiva, novas tecnologias, um boom de investimentos e comércio internacional, mudanças no paradigma produtivo, fusões e aquisições centralizando o capital e aumento da competitividade como conseqüência disso tudo. Há uma deflação nos preços de produtos de consumo. Foi citado o exemplo de um notebook, que custava U$ 5,000 15 anos atrás e hoje pode sair por menos de um décimo disso.

Em relação aos ativos financeiros, nos últimos 30 anos, houve um total descolamento do PIB mundial. Em 2010 o PIB mundial era de cerca de U$ 62 trilhões. Os ativos financeiros eram de U$ 185 trilhões.

Empresas transacionais geram receitas de U$ 30 trilhões e são maiores que muitos países. Geram 80 milhões de empregos, 66% do comércio global, 12% do investimento e U$ 1 trilhão de investimento em P&D&I.

Para se proteger do dólar, que só é emitido por um país e representa 70% das reservas, o que alguns economistas chamam de privilégio exorbitante, países começam a acumular dólares, apesar da baixíssima remuneração. É caso da China, com U$ 3,3 trilhões, Japão com U$ 1,3 trilhão e Brasil, com U$ 373 bi. Alguns economistas apostam na supremacia do dólar mais pela falta de opções do mercado do que por mérito.

Outro ponto importante da análise diz respeito ao deslocamento de eixos dinâmicos da economia mundial. Países emergentes crescem mais do que os avançados desde meados dos anos 90.

Novo quadro da economia mundial pós crise - guerra cambial seguida de guerra comercial (protecionismo). Papéis enfraquecidos de organismos como o FMI, Banco Mundial, OMC e G20. Passamos por um longo período com taxas de juros baixas e até mesmo negativas (descontada a inflação). Multipolaridade econômica, com redução do peso dos EUA (são 22% da economia mundial e já foram 40%). Democracia, liberdade de expressão e sustentabilidade passam a ser valores econômicos cada vez mais fortes.

Por fim, vivenciamos a busca frenética dos países pela segurança energética, hídrica e alimentar.

Num segundo momento da explanação, o foco recai sobre o Brasil e logo os juros são invocados. Nossas taxa de juros reais estão em queda conseqüente, hoje fixadas em torno de 2,3%.

O crédito continua crescendo, mas com uma certa acomodação, dado o endividamento das pessoas. O crédito dobrou em relação a sua participação no PIB em 5 anos. Hoje 42% da renda líquida das famílias está comprometido com dívidas. Esse percentual pode ir a 50%, com um fôlego ainda da redução de juros, já que grande parte desse endividamento está  atrelado a juros altos. O crédito a investimento vêm sendo suprido pelo BNDES, com vários focos. A tendência de longo prazo é o encolhimento do BNDES com a ampliação dos bancos privados.

O déficit público no Brasil é baixo e vem diminuindo, assim como a dívida pública em relação ao PIB. O problema é a qualidade da carga tributária, que onera exportações, investimentos, etc. O custo Brasil está muito pesado.  Os principais desafios são o ambiente de negócios, infraestrutura, educação e inovação. Num futuro próximo eles devem ser atacados.

Em termos de ampliação de competitividade (produção por trabalhador), o Brasil, por incrível que pareça, está a frente de Austrália, Alemanha, Reino Unido. MAs atentemos  que essa análise é da evolução da competitividade e não da competitividade em si, quando estamos a anos luz de distância desses países. Tudo o que gera maior transformação é mais atrasado no Brasil, ao contrário da agricultura e extrativismo.

O consumo cresce bastante, mas a indústria não acompanha. Essa demanda é atendida por exportações. O coeficiente de importações cresce em todos os segmentos, com destaque para máquinas e equipamentos e fármacos/químicos. Do ponto de vista da inflação e da inovação é até bom, mas não é sustentável. Hoje a indústria está com 20% de capacidade ociosa. Isso adia muitos investimentos. Por outro lado, se há uma retomada forte, é pego no contrapé. O peso da indústria no PIB está diminuindo.

Os serviços crescem bastante e não tem concorrência externa. Serviços sobem de preço muito rápido em situações como a do Brasil, que tem muita gente entrando no mercado de consumo.

Hoje há superávit comercial de U$ 30 bi, mas na indústria de alta e média tecnologia há forte dependência externa. Também houve um incremento de investimento em relação ao PIB, de 16% para 19% (2% público e 17% privado) entre 2000 e 2012. Mas precisamos melhorar muito. Ir, no mínimo, a 23/25%. Existe uma tendência do investimento correr a frente do crescimento econômico, de acordo com sondagens do BNDES.

Segundo o professor, quais são os fatores determinantes para nosso crescimento entre 2013 e 2017?
  • Recuperação da economia internacional
  • Manutenção política econômica, com estímulo  de consumo, investimento e produção
  • Ascensão de novos consumidores
  • Investimentos em capacidade de produção e infraestrutura
  • Crescimento do volume de crédito, com juros menores.

E os desafios?

  • Ambiente de negócios
  • Infraestrutura
  • Educação
  • Inovação


Por fim, temos algumas vantagens internas muito relevantes para um país de dimensões continentais, como o bônus demográfico até 2030, tolerância religiosa e étnica, matriz energética renovável e uniformidade linguística.

Nossa grande tarefa como gestores é o exercício permanente de entender as tendências e cenários, reagir e se antecipar a elas. Minimizar riscos e se aproveitar de oportunidades. Ser ágil nas mudanças necessárias, se possível de forma antecipada.

Para acessar a apresentação completa clique AQUI

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