sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Desenvolvimento regional e organização do espaço: Uma analise do desenvolvimento local e regional através do processo de difusão de inovação_Cima, Amorim_Resumo




Elizabeth Giron Cima
Luci Suzana Bedin Amorim

INTRODUÇÃO.
Para Milton Santos (2003), difusão de inovações torna-se um processo decisivo para os países subdesenvolvidos. Nos Países industrializados este fenômeno ocorreu de maneira  organizada em todas as formas de modernização.
As inovações pressupõem a mudança, mas o problema, para o autor, é a mudança dirigida ou planejada, que, segundo E. Roger e F. Shoemaker (1971) apud Santos (2003), é provocada externamente pela introdução de novas ideias. Nesse sentido, o autor cita como exemplo a imitação do modelo dos países desenvolvidos por parte dos países do terceiro mundo como necessidade mais do que como uma escolha.
Definição de Difusão e Inovação
A mudança tecnológica vista como um processo envolvendo principalmente a inovação e a difusão de novos processos ou produtos cresceu significativamente durante os últimos anos.
Para os modelos tradicionais, a difusão é considerada como estando num nível de análise diferente do da inovação. Senso assim, compreende-se que os estudos de difusão inscritos dentro destes modelos não consideram o processo de inovação, mas começam a partir de um ponto em que a inovação já está em uso. Isto significa dizer que a mudança tecnológica é entendida por esses modelos como um processo envolvendo  primeiro a geração e a comercialização de grandes inovações, e, segundo, a aplicação mais ampla dessas inovações num processo gradual  definido como o de difusão (THIRTLE e RUTTAN,  1987).
Tais modelos, nas suas dimensões, supõem que a geração e a comercialização de inovações são negócios de países desenvolvidos, e que nenhum país pode inovar antes de alcançar os limites tecnológicos internacionais. Neste sentido, os países em desenvolvimento são vistos como sendo caracterizados pela ausência de inovação tecnológica (HERBERT-COPLEY, 1990; UNCTAD, 1996) e, portanto, envolvidos essencialmente na difusão internacional de nova tecnologia.
Nos modelos recentes , o processo de difusão de novas tecnologias é caracterizado não só pelo crescimento gradual de adoação destas pela população, mas também por seu caráter cumulativo. Neste sentido, a difusão é considerada interligada à inovação (ROGERS, 1983; THIRTLE e RUTTAN, 1987; BIGGS, 1990; BELL e PAVITT, 1992).


A difusão de inovações e o desenvolvimento econômico regional.  

A realização de um estudo teórico em economia Regional requer que se enfrente o desafio metódico relativo à definição do objeto em análise. A região pode ser pensada sob qualquer ângulo das diferenciações econômicas, sociais, culturais, políticas, geográficas, antropológicas e históricas. O conceito de região está presente nesses vários domínios da ciência. No entanto, é no aspecto geográfico que se encontram enraizadas a tradição conceitual de região no sentido mais amplo.
A pesquisa sobre a difusão espacial das inovações teve uma tendência fundamental empírica. De acordo com Santos (2003), os Suecos Hagerstrand (1952) e Goldlum (1951) desenvolveram dois tipos de modelos de processo de difusão: 1)  modelos indutivos, e 2) modelos probabilísticos.
Hirschmann (1961) introduziu na ciência econômica os primeiros estudos sobre difusão, e a define como efeitos de propagação da distribuição espacial do desenvolvimento econômico. Esses efeitos seriam decorrentes da interação espacial entre as regiões desenvolvidas e subdesenvolvidas.
Para Schumpeter (1982), economista precursor da teoria do desenvolvimento capitalista, o elemento central para a compreensão da dinâmica da evolução capitalista e é a inovação. Sua grande contribuição está na concepção da existência de ciclos econômicos, em que as depressões econômicas resultariam de pontos baixos desses ciclos, e o estimulo para um novo ciclo econômico partiria principalmente das inovações tecnológicas desenvolvidas por empresários empreendedores.
A rigor, essa capacidade de absorção depende de alguns fatores determinantes na região em face dos custos referentes à adoação do progresso técnico, como os elementos socioeconômicos e a mentalidade dos empresários em relação aos investimentos a serem realizados.
Para Santos (2003) o processo de desenvolvimento é histórico, e está associado ao momento histórico da região. Nesse sentido estão as idéias de Furtado (2001) sobre o desenvolvimento, cuja contribuição foi a de combinar uma concepção ampla de processo histórico do desenvolvimento com suas implicações sociopolíticas. Para ele, o desenvolvimento econômico significa mais do que o simples crescimento da economia ou acumulação de capital, porque, alem de representar o incremento da capacidade produtiva, implica também a irradiação do progresso para o grosso da sociedade, no sentido de homogeneizá-la. E afirma que a única alternativa para a modernização é o desenvolvimento.
A difusão de inovação é a própria essência da modernização e do desenvolvimento dos sistemas sociais.
Boisier, citado por Coraggio (1985), entende que a estrutura social do sistema deve conectar-se em maior  medida aos valores modernos que aos valores tradicionais. A estrutura social deve ser favorável à mudança. Necessariamente, o processo de modernização e mudança de uma sociedade em desenvolvimento está conectado mais intensamente às variáveis políticas que as variáveis econômicas ou técnicas.

A problemática da organização do espaço e do desenvolvimento regional.

A análise regional, alguns anos atrás, desenvolveu-se  em duas vertentes principais: A Teoria da localização e as teorias do crescimento/desenvolvimento regional. A primeira segue a teoria da produção dentro da abordagem microeconômica, a segunda teve como base a tradição Keynesiana.

A teoria da localização evoluiu a partir de varias teses.

   A base das análises desses autores está em considerar a importância fundamental dos custos de transporte para determinação da localização ótima da firma.
 As teorias de crescimento/desenvolvimento regional fundamentam-se na tradição de Keynesiana. A região passa a existir para o resto do mundo a partir do momento em que comercializa seus produtos alem de suas fronteiras. O seu crescimento/desenvolvimento será em decorrência do dinamismo dessa base de exportação e da difusão desse dinamismo para o resto da economia regional.
As políticas públicas de desenvolvimento regional sofreram grande influência dessas teorias a partir da década de 1950, buscando a adequação à realidade por meio de estudos analíticos.

Teorias da localização

No período de 1960 e 1970, acreditou-se que a solução para problemas econômicos e sociais dos países em desenvolvimento seria o fortalecimento de um ou mais polos de crescimento. Para Andrade (1987), Perroux esclarece que o pólo e o centro dinâmico de uma região ou de um país  e que seu crescimento se expande para a região de seu entorno. Sendo assim, o desenvolvimento regional estará sempre ligado ao seu pólo.
A teoria mais intensamente estudada referente ao crescimento urbano, segundo Richardson (1975), é a teoria dos lugares centrais. Conforme a teoria, o crescimento da cidade depende de sua especialização, em que a principal função  d cidade é atuar como centro de serviços para o interior imediatamente próximo a ela.
A Teoria dos Lugares Centrais.
A teoria dos lugares centrais apresentada pelo geógrafo alemão Walter Christaller, na década de 1930, é de conteúdo econômico e a mais difundida sobre o crescimento urbano. Conforme a teoria, o crescimento da cidade está relacionado a sua especialização em vários tipos de serviço urbanos, e o nível de demanda de serviços urbanos sobre a área atendida é que determina o ritmo do crescimento dos lugares centrais. É uma teoria geral, pois não somente explica o crescimento interno de uma cidade individualizada mas também a distribuição espacial dos centros urbanos na economia regional e  nacional.
A principal função da cidade é atuar como centro de serviços à região de proximidade ou região complementar, distribuindo inúmeros bens de serviços ao seu entorno.
Christaller trabalha dois  conceitos – chave que determinam por que certos bens e serviços só o centro oferece e os fatores que afetam as dimensões do lugar central, que são o limite crítico de demanda de alcance do bem ou serviço. O conceito de limite crítico expressa o nível mínimo de demanda que asseguraria a produção de um determinado bem ou serviço e a partir do qual se passa a ter rendimentos crescentes. O alcance  de um bem ou serviço depende de vários fatores, mas a distância econômica é seu determinante principal, ou seja,  é a maior distância que a população  dispersa se dispõe a percorrer para adquirir um bem ou utilizar um serviço (RICHARDSON, 1975).
O Conceito de Pólo de Desenvolvimento  e Pólo de Crescimento
Perroux, em sua concepção original, conceitua pólo de desenvolvimento como uma agregação de indústrias propulsoras, geradoras de efeitos de difusão (com influência direta no aumento de emprego) em uma região maior. E afirma que o crescimento não se difunde de maneira uniforme entre os setores de uma economia, mas que se concentra em certos setores, com efeito, em indústrias de crescimento particulares. Estas indústrias tendem a formar aglomerações e a dominar outras indústrias que se conectam a elas, gerando efeitos de difusão em outras indústrias, elevando assim, o produto, aumentando o emprego e a tecnologia, e se chamam indústrias motrizes; o pólo de desenvolvimento é o agrupamento dessas indústrias propulsoras (HIGGINS, 1985).
Dessa forma, é necessário haver pelo menos um pólo de desenvolvimento ou uma região propulsora  em cada sistema, para que haja crescimento econômico neste sistema.
Análise e discussão dos resultados

O grande desafio das teorias do desenvolvimento regional é viabilizar a transmissão dos impulsos econômicos originados nas regiões centrais para as periféricas ou mais pobres.  As estratégias nacionais de desenvolvimento  regional para toda a America Latina nas décadas de 1950 e 1960 tiveram como base a teoria dos pólos de crescimento.
Já no final da década de 1960, a maioria dessas estratégias sofriam críticas severas por ser unilateral em seu planejamento das soluções propostas e por deixar quase que completamente de lado os problemas sociais inerentes ao planejamento regional.
Entretanto, o pensamento que prevalecia na adoação das estratégias de desenvolvimento regional com base na teoria dos pólos de crescimento levava m em conta a industrialização e a urbanização como principais fatores de crescimento econômico. Acreditava-se qua a aceleração desse crescimento fosse responsável pela solução de todos os problemas sociais econômicos.
Aydalot (1985) argumenta que certas forças convergentes que aparecem no campo da técnica e na organização têm determinado as estruturas espaciais caracterizadas pela teoria dos pólos de crescimento. No entanto, um pequeno numero de grandes empresas domina um grande numero de pequenas empresas; este reagrupamento acontece devido ao fornecimento de matéria-prima, mão- de- obra qualificada  e infra-estrutura.
Nesse sentido, o autor justifica que grandes empresas são capazes de salvar uma região mediante a abertura de uma planta industrial, aumentando, consequentemente, os níveis de emprego, renda per capita, gerando bem-estar à população, aumentando divisas, enfim, contribuindo para o desenvolvimento sustentado da região.
A importância da teoria dos lugares centrais prioriza a cidade como um meio difusor de inovação compreendido como resultado de forças econômicas, sociais e culturais que determinam a vida humana numa sociedade complexa, avançada e urbanizada.
O crescimento econômico manifesta-se na cidade-região pela expansão dos limites da cidade central e pelo aparecimento dos centros especializados. 
           

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Contribuição para o desenvolvimento local da formação de redes intersetoriais_Resumo traduzido_Marinela Vega y Yajaira Rojo




Texto do mestrado em Visão Territorial do Desenvolvimento Sustentável

Introdução:

A complexa dinâmica do desenvolvimento é reconhecida amplamente, como um processo, e que  demanda vários tipos de transformações. Isso acontece porque a sociedade, ao evoluir continuamente, se vê constantemente no enfrentamento de novos problemas e conflitos, novos recursos e novas expectativas sociais e, portanto, novos desafios políticos (Utria, 2002).

A teoria do desenvolvimento endógeno, diferentemente dos modelos neoclássicos, argumenta que cada fator e o conjunto dos fatores determinantes do acúmulo de capital criam um ambiente em que os processos de transformação e desenvolvimento das economias tomam form. Argumenta ainda que a política de desenvolvimento local permite alcançar de forma eficiente a resposta local aos desafios da globalização, o que torna a teoria do desenvolvimento endógeno uma interpretação para a ação (Vásquez, 2000).

A evolução organizacional como elemento determinante das relações intersetoriais:

Atualmente, a importância das organizações reside na satisfação das necessidades de um coletivo, representando um maior esforço por conhecer essas necessidades e poder adaptar seus processos e recursos para fornecer uma resposta precisa às demandas. A formação de alianças responde a esse desafio.

A tendência das organizações reconhecerem a situação de dependência de outras, para alcançar competitividade, demanda a evolução das mesmas. Esta evolução se traduz na implantação de mecanismos de cooperação entre elas, representando mudanças nas estratégias organizacionais.

A concorrência global exige respostas rápidas e bem sucedidas, de modo que a relação entre duas organizações se torna insuficiente para responder aos novos e constantes desafios impostos.

A essência da evolução das organizações baseia-se na capacidade de descobrir novas e melhores adaptações cooperativas entre seus membros, o que quer dizer que se estabelece uma relação em que as partes envolvidas conseguem benefícios para refinar seus processos, obter lucros, fornecer respostas ao ambiente e continuar evoluindo.

A evolução das organizações baseia-se na evolução da cooperação como estratégia de crescimento e de fortalecimento organizacional, transcendendo sua adaptação ao meio ambiente, o que quer dizer que abrange a conformação de novas estruturas de relação baseadas em mecanismos que favorecem a organização, seu ambiente e as organizações pertencentes ao mesmo campo.

Nesse sentido, o surgimento de novas estruturas de relação exige a participação de indivíduos com poder suficiente para estimular outros membros a participar de processos de cooperação dentro do território.

A produtividade do gerente em uma organização evolutiva está determinada por sua capacidade de fazer com que os membros que comanda pensem e ajam evolutivamente. Aí reside a evolução da organização.

Intersetorialidade para o desenvolvimento endógeno:

As alianças entre redes de organizações para acessar os recursos constituem a origem de novas formas de organização: “as relações intersetoriais”, conceituadas como:

A reciprocidade multidirecional entre setores totalmente conformados por meio da estrutura de redes, regida por normas específicas, se propõem a implementar mecanismos de cooperação e de concorrência para fornecer bens e serviços adaptados às necessidades da sociedade (Vega, 2003).

Surge, então, a necessidade de revisar a relevância e o alcance da relação entre a universidade e a empresa em termos de relação inter-organizacional, visto que as exigências feitas sugerem a existência de estruturas fortalecidas que tragam ao país uma plataforma de tal força que provenha de setores totalmente homogeneizados e complementados na produção científica, de bens e serviços, que propiciam o desenvolvimento local endógeno.

Este setor se constituiria no suporte de um espaço produtivo com respostas bem sucedidas a inovações que vem surgindo no âmbito mundial e é ameaçado pela obsolescência dos países que não se preparam para se fortalecer e evitar que isso os faça desaparecer.

A inovação necessária para a realização do desenvolvimento local surgiria, em boa parte, da interação racional do setor empresarial com o setor universitário.

Atualmente, tem-se redefinido o conceito de território, isso pressupõe uma reorganização das forças que convergem, ressaltando a conformação de redes; no território são consideradas as áreas de construção de recursos. A competitividade territorial envolve os recursos do território buscando encontrar a coerência global; o envolvimento dos agentes e instituições, a cooperação de outros territórios e a articulação com as políticas regionais, nacionais e com contexto global (Observatório europeu, 2001).

Por sua vez, as redes territoriais devem apresentar certas características, sendo o intercâmbio de informação e conhecimento os elementos centrais. Assim Ibarra (1992), diz que existem três propriedades que definem a estrutura das redes e que estão relacionadas com a flexibilidade e facilidade de informação: a densidade, a conectividade e a hierarquia.

A densidade es el radio de vínculos reais e potenciais entre os atores da rede, a conectividade é o raio de vínculos simultâneos em que os membros de uma rede estão através de nós, direta ou indiretamente. A hierarquia descreve os padrões de estratificação ou desigualdade no grau em que estão envolvidos os atores das relações.

As redes devem apresentar uma organização horizontal, ou seja, não deve existir uma hierarquia, o que evita a burocracia. Supõe-se que este território inovador que forma parte da rede deve estar permeado de regras, valores, normas e comportamentos em consonância com a cultura da cooperação.

As redes territoriais intersetoriais requerem estratégias para fazer a articulação necessária entre os setores sócio-produtivos, que compõem a observação de certas condições no ambiente territorial e, mais especificamente a nível intermediário, assegurando uma dinâmica dirigida a atingir os objetivos sócio econômicos no território nacional. Estes mecanismos respondem a políticas definidas em âmbito intermediário e são implementados mediante o trabalho conjunto de entidades de nível micro dentro dos setores ou entre setores, e em permanente interação com o nível intermediário.

Nas esferas micro e meso, a disposição de redes organizacionais com intenção de gerar inovações dirigidas a atender situações coletivas são medidas por indicadores que as caracterizam e que delineiam sua pertinência social:

·         Tem elementos para contribuir com o desenvolvimento da região;
·         Refletir o interesse das comunidades;
·         As organizações são interdependentes entre si;
·         As organizações tem relações nacionais e internacionais, a nível micro, intermediário, macro e meta;
·         As redes promovem a conservação do meio ambiente;
·         Os participantes da rede de inovação preparam suas comunidades para participar dos processos de inovação para obter o desenvolvimento sustentável da região;
·         Os produtos e serviços que oferecem estão baseados na inovação tecnológica.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Desenvolvimento (Local): Do que estamos falando? Sergio Boisier_Versão reumida e traduzida.


Texto do mestrado em Visão Territorial e Sustentável do Desenvolvimento.

O propósito desse documento é trazer uma reflexão acerca das crescentes “denominações” do desenvolvimento. Um breve esforço histórico da aparição do conceito de desenvolvimento e se apresenta o processo de subjetivização crescente nas definições do mesmo. Se examinam os diversos adjetivos: territorial, regional, local endógeno, descentralizado, o “top-down”, capilar, etc. Depois se aponta a lógica da dinâmica inicial da primeira fase do desenvolvimento, que é sempre territorial, podendo, sem embargo, dar um passo em seguida a uma lógica funcional, outra coisa comum, mas não inexorável.

A economia clássica (Smith, Ricardo e Marx) fez do crescimento econômico seu tema central e a na economia neoclássica (Marshall, Walras, Pareto, Pigou) se focou mais distribuição desse crescimento como seu tema central. O conceito de desenvolvimento tem suas raízes mais na economia neoclássica que na clássica.

O conceito de desenvolvimento é um tópico do pós-guerra e um tópico das Nações Unidas. Na Carta do Atlântico (1941), firmada por Churchill e Roosevelt, expressa-se que o único fundamento certo da paz reside em que todos os homens livres podem desfrutar de segurança econômica e social.

“O desenvolvimento econômico é um processo continuado cujo mecanismo essencial consiste na aplicação reiterada do excedente em novas inversões, e que tem como resultado a expansão também incessante da unidade produtiva que se trata. Essa unidade pode ser até uma sociedade inteira.” (Echeverria).

Durante duas décadas o desenvolvimento continuou sendo quase um sinônimo de crescimento e o PIB agregado e sobretudo, o PIB per capta, foi a medida corrente do nível de desenvolvimento. Isto contribuiu a consolidar o domínio profissional dos economistas no tema de desenvolvimento, algo que gerou um ciclo virtuoso de reducionismo econômico, que pouco ajudou a entender a verdadeira natureza do fenômeno e a desenhar formas eficazes de intervenção promotora.

O economista britânico Dudley Seers (1970) provocou no final dos anos sessenta uma verdadeira revolução em matéria de desenvolvimento com seu conhecido artigo acerca do significado de desenvolvimento.

Segundo Seers, o ponto de partida de uma discussão acerca do desenvolvimento é reconhecer que “desenvolvimento” é um conceito normativo, livre de juízos de valor.

Seers, fortemente inspirado no pensamento de Gandhi, sustenta que devemos perguntar a nós mesmos acerca das condições necessárias para a realização do potencial da personalidade humana, algo comumente aceito como objetivo. A partir desta pergunta, Seers, aponta a alimentação, como uma necessidade absoluta. Uma segunda condição básica para o desenvolvimento pessoal é o emprego, e a terceira é a igualdade entendida como equilíbrio.

“A questão para ser perguntada sobre o desenvolvimento de um país é a seguinte: o que tem acontecido com a pobreza? O que tem acontecido com o desemprego? O que tem acontecido com a desigualdade? Se todas as três declinaram de altos níveis, então se têm um período de desenvolvimento ao referente país.”

Seria necessário esperar outras décadas para que o PNUD, inspirado particularmente nas ideias de Amartya Sen, introduzisse uma nova concepção e uma nova forma de medir o desenvolvimento através do conceito de um Índice de Desenvolvimento Humano.

“O desenvolvimento humano pode se descobrir como um processo de ampliação das opções das pessoas… Mas apesar das necessidades, as pessoas valorizam demais benefícios que são menos materiais. Entre eles figuram, por exemplo, a liberdade de movimento e de expressão e a ausência de opressão, violência e de exploração. As pessoas querem demais ter um sentido de propósito na vida, além de um sentido de potencialização. Entre os membros de famílias e comunidades, as pessoas valorizam a coesão social e o direito de afirmar suas tradições e cultura própria.”

(...) reúne-se apenas três componentes de Desenvolvimento Humano: qualidade de vida, longevidade e nível de conhecimento.

No caso da saúde, se mede a esperança de vida ao nascer. Na área de educação atualmente se usa como variável a média de anos de escolaridade de pessoas de mais de 25 anos. Finalmente o Índice considera a disponibilidade de recursos econômicos medida a partir do poder aquisitivo sobre a base do PIB per capta ajustado pelo custo de vida.

Em meados dos anos noventa, o Secretário Geral da ONU define cinco dimensões de desenvolvimento, levando definitivamente este conceito ao plano tangível e abrindo então a porta a profissionais provenientes de disciplinas distintas da economia em seu trabalho sobre desenvolvimento. Sociólogos, cientistas políticos, psicólogos, historiadores, ecologistas, antropólogos e profissionais da cultura encontram agora novos espaços de trabalho. A inter e multidisciplinariedade começam a abrir caminho.

As dimensões introduzidas por Boutros-Gali são:

1)    Paz como a fundação.
2)    A economia como motor do progresso.
3)    O ambiente como a base da sustentabilidade.
4)    Justiça como o pilhar da sociedade.
5)    Democracia como boa governança.

Falando sobre subjetividade social e desenvolvimento humano, Guell (1998) afirma com muita segurança que:

“Um desenvolvimento que não promove e fortalece confianças, reconhecimentos e sentidos coletivos, carece em curto prazo de uma sociedade que o sustente. Então a viabilidade de êxito de um programa de desenvolvimento dependerá do grau em que as pessoas percebem esse programa como um cenário em que sua subjetividade coletiva é reconhecida e fortalecida.”

O desenvolvimento é a utopia social por excelência. Em um sentido metafórico é um paraíso perdido da humanidade, nunca alcançado nem recuperado devido a sua natureza assintótica de realização. Na prática, é um breve reconto da sua história mais contemporânea assim como se prova, cada vez que um grupo social se aproxima de sua própria ideia de estado de desenvolvimento, imediatamente suas metas são quantitativas ou qualitativas.

Assim se assiste a uma verdadeira proliferação de “desenvolvimentos”: territorial, regional, local, endógeno, sustentável, humano e, em termos de dinâmica, desenvolvimento de “bottom up” e outros mais. Inclusive se observa no mais puro estilo cartesiano, a especialização funcional de instituições acadêmicas e políticas, umas ocupadas desta ou de outra categoria, como se fossem independentes.

1 - Desenvolvimento territorial. A mais ampla concepção de desenvolvimento é a de desenvolvimento territorial. Aqui se trata de um conceito associado à ideia de continente e conteúdo.

Assim, a expressão “desenvolvimento territorial” se refere a escala geográfica de um processo e não a sua substância. É uma escala contínua, em que se é possível reconhecer os seguintes cortes: mundo, continente, país, região, estado ou província ou departamento, comum, e em certos casos, bairros ou outras categorias menores.

2 - Desenvolvimento regional. O desenvolvimento regional consiste em um processo de câmbio estrutural localizado que se associa a um permanente processo de progresso da própria região, da comunidade ou sociedade em que se habita e cada indivíduo membro da comunidade e habitante de tal território. Observa-se a complementariedade desta definição ao combinar três dimensões: uma dimensão espacial, uma dimensão social e uma dimensão individual.

O que é uma região?

Região é um território organizado que contém, em termos reais ou em termos potenciais, os fatores de seu próprio desenvolvimento, com total independência de escala.

3 - Desenvolvimento local.

Buarque (1999; 23/25) é um dos especialistas que se atreve a definir o desenvolvimento local. Algumas de suas proposições são as seguintes:

“Desenvolvimento local é um processo endógeno registrado em pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos capaz de promover o dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida da população.”

O conceito genérico de desenvolvimento local pode ser aplicado para diferentes cortes territoriais e aglomerados humanos de pequena escala, desde a comunidade (...) até o município ou mesmo microrregiões homogêneas de porte reduzido.

“O desenvolvimento local dentro da globalização é uma resultante direta da capacidade dos atores e da sociedade locais se estruturarem e se mobilizarem, com base nas suas potencialidades e na sua matriz cultural, para definir e explorar suas prioridades e especificidades, buscando a competitividade num contexto de rápidas e profundas transformações.”

Borja e Castells (1997) indicam que o global e o local são complementares.

Qual é a diferença entre o local e regional? A diferença entre os dois conceitos reside em uma dupla questão escalar. Trata-se de uma escala territorial e uma escala funcional.

Outra importante diferenciação entre o local e o regional reside na importância relativa dos atores individuais e corporativos (ou institucionais) em ambos os casos. Se espera, razoavelmente, que um território “local” seja um território proxêmico no qual as relações interpessoais, os contatos “cara a cara” e as tradições familiares e sociais sejam de maior importância que as relações impessoais mediadas por instituições e que as tradições sejam menos importantes que o quadro jurídico.

Desenvolvimento endógeno.

O desenvolvimento deve ser considerado como mais endógeno, devido a sua estreita associação com a cultura local e com os valores que ela inclui.

Mais preciso é Boisier (1993), que argumenta que “A endogeneidade do desenvolvimento regional deve ser entendida como um fenômeno que se apresenta em pelo menos quatro planos que se cortam, se cruzam entre si.”

Primeiro, a endogeneidade se refere ou se manifesta no plano político, no qual se identifica como uma crescente capacidade regional para tomar as decisões relevantes em relação a diferentes opções de desenvolvimento, diferentes estilos de desenvolvimento e em relação ao uso de instrumentos correspondentes, ou seja, a capacidade de desenhar e executar políticas de desenvolvimento, e sobretudo, a capacidade de negociar.

Em segundo lugar, a endogeneidade se manifesta no plano econômico, e se refere, neste caso, à apropriação e reinvestimento regional de parte do excedente a fim de diversificar a economia regional, dando ao mesmo tempo uma base permanente de sustentação ao longo prazo.

Em terceiro lugar, a endogeneidade é também interpretada no plano científico e tecnológico. Em quarto lugar, a endogeneidade se planta no plano da cultura, como uma espécie de matriz geradora da identidade sócio territorial.

Desenvolvimento descentralizado.

Deve-se dizer, para começar, que a descentralização é um conceito que se implanta em três dimensões: a funcional, a territorial e a política. Em qualquer caso, descentralizar sempre implica em uma redistribuição de poder e normalmente significa criar instituições que tem como características básicas contar com uma personalidade jurídica independente de outras figuras jurídicas (como o Estado), com recursos ou orçamento próprios e com normas de funcionamento próprias.

A descentralização funcional leva à criação de organizações com as propriedades citadas no parágrafo anterior, mas com competências restritas a uma determinada atividade ou setor (como por exemplo, um Banco Estatal de Pecuária). A descentralização territorial também implica na criação ou reconhecimento de entidades com, novamente, as características mencionadas, porém com suas múltiplas competências restritas a um âmbito geográfico determinado (como é o caso dos atuais Governos Regionais no Chile). Finalmente, a descentralização política acrescenta o requisito de geração das competências através de eleições políticas democráticas (livres, secretas e informadas), como seria o caso dos governos autônomos das comunidades espanholas.

O desenvolvimento descentralizado supõe a configuração do território em questão como um sujeito coletivo com capacidade para construir seu próprio futuro. Sem dúvida, não é o território como recorte geográfico que pode operar como sujeito, e sim a comunidade que habita esse território na medida em que ela mesma se alimenta do regionalismo (regionalismo: um sentimento de identificação e pertencimento a um território, que é permanente no tempo e que permite suprimir interesses particulares em um interesse coletivo e que gera uma cultura de características particulares, que unifica o que há dentro e separa e distingue o que há fora) e na medida em que é capaz de dar a si mesma um projeto acordado de futuro comum para acomodar a diversidade.

Desenvolvimento de baixo para cima (bottom-up)

Neste contexto, os autores definem os seguintes elementos como componentes essenciais de estratégias de desenvolvimento “desde abajo”:
1)    O estabelecimento de um amplo acesso à terra e a outros recursos naturais do território, como fatores chaves de produção na maioria das áreas menos desenvolvidas do mundo;
2)    A introdução de novas estruturas de decisão organizadas territorialmente (ou a redefinição de antigas estruturas) para garantir a equidade na comunidade;
3)    A concessão de um nível mais elevado de autodeterminação às áreas rurais assim como a outras áreas periféricas para gerar uma instituição própria;
4)    A escolha de uma tecnologia “regionalmente adequada” orientada a economizar recursos escassos e a maximizar o uso dos recursos abundantes;
5)    Prioridade aos projetos que satisfazem necessidades básicas da população;
6)    Introdução de políticas de preços nacionais que favoreçam os termos de intercâmbio das regiões periféricas;
7)    Ajuda externa admissível como compensação dos efeitos de erosão causada por dependências prévias;
8)    O desenvolvimento de atividades produtivas que excedam a demanda regional somente se elas conduzem a uma ampla melhoria das condições de vida da população;
9)    Reestruturação dos sistemas de transporte e do sistema urbano para melhorar e deixar mais equitativo o acesso da população em todo o território;
10)  Melhoria do transporte e das comunicações rural-rural e rural-aldeia;
11)  Estruturas sociais igualitárias e consciência coletiva são, de acordo com os autores, elementos importantes para uma estratégia “de baixo para cima”.

Efetivamente, o crescimento econômico foi regulamentado por uma lógica funcional, a partir, ao que parece, da Revolução Industrial. Uma lógica que fez do setor industrial o setor motor do crescimento e, como toda vez que se escolhe um setor motor para estabelecer o crescimento, se faz necessário “ordenar” o espaço em que naturalmente tal setor se desenvolve.

Desde o ponto de vista do desenvolvimento, a dinâmica territorial tem sido completamente diferente, embora querer separar absolutamente ambos os processos seja um erro.

O ponto de partida está em reconhecer que o desenvolvimento - tal como se entende hoje em dia, não como sempre foi - é um processo que, requerendo uma base material, não oculta a sua natureza intangível, como se discutiu inicialmente. Tem-se argumentado que tais capitais intangíveis devem ser articulados, potencializados e direcionados por uma forma ainda mais elevada de capital intangível: o capital sinérgico latente existente em quase toda comunidade e definido como um potencial catalítico da sociedade, que permite promover ações em conjunto dirigidas a fins coletivos e democraticamente escolhidos com o conhecido resultado de obter , assim, um resultado final que é maior que a soma dos componentes. Argumenta-se também - e este é um ponto crucial - que tais capitais intangíveis e em particular, o capital sinérgico, se encontram mais facilmente em espaços sociais e territoriais pequenos, de natureza proxêmica, em que os contatos cara a cara, os costumes e as tradições são muito importantes.

Se estas proposições são corretas, então o desenvolvimento começa por ser um fenômeno local, de pequena escala, e certamente endógeno. Porém, para poder ser implantado como um processo endógeno já se sabe que se requer adquirir previamente a qualidade de descentralizado.

Então, a partir desse momento e desse ponto, o desenvolvimento começa a se expandir desde baixo, para cima e para os lados de acordo com um processo de capilaridade.

Vázquez-Barquero:

“A conclusão final é que ao menos durante a fase inicial do longo ciclo de expansão territorial dos processos de crescimento e desenvolvimento, o crescimento pode ser induzido desde cima e também desde baixo, porém o desenvolvimento se mostrará sempre como um processo local, endógeno, descentralizado, capilar e contínuo ou descontínuo sobre o território. Afinal de contas, os adjetivos de desenvolvimento são redundantes e tautológicos, já que só dizem o que o próprio conceito de desenvolvimento diz. São, no melhor dos casos, copulativos e não disjuntivos.

Não convém colocar expectativas superdimensionadas no desenvolvimento local; questões técnicas de escala e de complexidade podem funcionar como fortes “barreiras de entrada” ao desenvolvimento e insistir em operar com essa escala pode deixar a população (o sujeito, afinal) em uma espécie de limbo de desenvolvimento, entre o nada e o nada. Em matéria de desenvolvimento territorial, devemos aderir à Lei da Necessária Variedade de Ashby: níveis distintos de complexidade requerem escalas distintas e homólogas de intervenção.”