quinta-feira, 14 de junho de 2012

Raízes do Brasil Atual


Significado de Brasilidade

Substantivo Feminino
Regionalismo: Brasil.
1 - caráter ou qualidade peculiar, individualizadora, do que ou de quem é brasileiro; brasileirismo, brasilianismo, brasilismo
2 - sentimento de afinidade ou de amor pelo Brasil; brasileirismo, brasilianismo, brasilismo

Esse foi o mote da aula do professor Francisco Carlos Teixeira: Brasilidade. Evocando a nossa identidade pelo território, a partir de um discurso nacionalista, buscando despertar ou reforçar no inconsciente coletivo o espírito cívico, patriótico. O que caracteriza o Brasil como Brasil? O que faz o Brasil ser brasileiro?

Dentre várias evocações de poesias, trechos literários, músicas (aqui vale um registro a parte, pela presença de músicos da Escola de Música da UFMG que nos brindaram com sua arte, tornando a aula bem mais leve e arrebatadora) e pinturas, o professor desvenda o espírito de brasilidade que impregnou o país na primeira metade do século passado.

Em pesquisa livre, cheguei ao trecho abaixo da revista  Papel e Tinta,  dirigida por Menotti del Picchia e Oswald de Andrade, que ilustra muito bem esse espírito:

"...uma rajada de energia conduziu o braço rural às zonas fecundas do sertão, já axadrezadas pelos trilhos das estradas de ferro e de rodagem; as cidades densas de uma população ávida de trabalho tornaram-se centros febricitantes de progresso e de riqueza. A brasilidade, identificada como estado natural de espírito, diz respeito à intuição de um sentimento nacional, visceralmente brasileiro."
Vale lembrar que entre 30 e 73 (primeiro choque do petróleo) o Brasil foi o país que mais cresceu . Éramos a China da época. Também foi um período marcado pela "Era Vargas". A malandragem carioca é a tradição se chocando com o moderno. A boemia se viu espremida pelo tempo industrial, mecânico. Sinais da modernidade. Dando um salto aos dias de hoje, há relógios em tudo. O que é uma jornada de trabalho? Em muitos casos ela acaba se fundindo com a vida de executivos.

Infelizmente, um peso da nossa história é o legado de desigualdades raciais. No país com maior população negra fora da África, era de se esperar uma maior participação desses nossos irmãos, mas estamos longe de chegar a essa realidade. Esse é o peso da história. O Brasil não criou um apartheid como na África do Sul e nem um regime de segregação como nos EUA, mas, mesmo assim, não houve a ascendência dos negros na sociedade (apesar de uma democracia sexual, boa convivência). Em grande parte pelas lacunas educacionais para negros e pobres. O Brasil estabeleceu primeiro o serviço militar obrigatório e depois a educação obrigatória, tal o descaso com a educação.

As igrejas evangélicas americanas se encarregaram de alfabetizar os negros americanos, pós guerra civil. No Brasil, a sociedade civil não preencheu a lacuna do estado. A igreja protestante norte americana nunca aceitou a escravidão. Também não achavam que ganhar dinheiro era um problema. O enriquecimento era um corolário da salvação.

Qual o sentido do Brasil? Uma empresa capitalista da Europa estabelecida nos trópicos, mas agrária, latifundiária e escravista. Ver Formação do Brasil Contemporâneo (Caio Prado Junior).


Em 1930 Getúlio Vargas começa um processo de uniformização, proibindo escolas em língua estrangeira. Tarsila do Amaral retrata as mãos e pés grandes do Brasil trabalhador. Na escravidão, pés e mãos grandes simbolizam o trabalho escravo, o que era muito negativo. Ver poesia de Cassiano Ricardo.

Estava em marcha um processo de valorização do Brasil perante outras nações. Idéia de Brasil emergente. Brasil era importante no jogo da segunda guerra mundial. "Brasil Pandeiro" de Assis Valente demonstra bem isso.

"Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor
Eu fui à Penha, fui pedir à padroeira para me ajudar
Salve o Morro do Vintém, Pindurassaia, eu quero ver
Eu quero ver o Tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar
O Tio Sam está querendo conhecer a nossa batucada
Anda dizendo que o molho da baiana melhorou seu prato
Vai entrar no cuzcuz, acarajé e abará
Na Casa Branca já dançou a batucada de Ioiô, Iaiá
Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros
que nós queremos sambar
Há quem sambe diferente, noutras terras, outra gente,
num batuque de matar
Batucada, reuni vossos tambores, pastorinhas e cantores
expressões que não têm par
oh meu Brasil
Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros,
que nós queremos sambar
Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros,
que nós queremos sambar." 

A república de Vargas puxa a integração e modernidade. É o fim da república velha. Há uma grande contribuição de Portinari - O poeta dos pincéis: Um Brasil autêntico. Portinari é o melhor retratista desse Brasil que está nascendo. Retrata pessoas, trabalhadores. Não é mais o ócio, a elite, o não trabalho. Trabalho vale, tem importância, confere dignidade. Também ilustra a denúncia de injustiças, retratando a seca, o trabalho infantil a indústria da seca.


Carcará é uma metáfora para a injustiça social. O show seria proibido por isso.



O golpe do estado novo, em 37, que duraria até 45, foi um duro golpe, dado pelo próprio Getúlio Vargas. Não há liberdade, nem federação. Todas as bandeiras, a não ser a nacional, são queimadas e proibidas. Em 45 ainda se procura adiar a crise do Brasil arcaico, mas a industrialização, a tecnologia e as massas trabalhadoras não permitem. O processo er, então, irrefreável.

A aula termina por aqui. Confesso que, mesmo gerando reflexões profundas, senti falta de uma evolução do raciocínio para tempos mais atuais, já que a "Brasilidade" está longe de ser uma identidade bem arraigada na nossa sociedade, mas não deixa de ser um processo em constante evolução. Também senti falta de um encaixe do tema com os negócios em si. Uma reflexão mais próxima atividade empresarial nesse contexto e também como a "brasilidade" pode ser explorada no dia a dia e na cultura empresarial.

Quem quiser acessar a apresentação completa da aula, pode fazê-lo clicando AQUI.

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