Professor Joan del Alcazar
As mudanças não são apenas econômicas, apesar desses aspectos
serem os mais visíveis. De 1945 a
1975/80 foram as décadas gloriosas da Europa, com uma grande melhora social dos
cidadãos nesse período.
A Espanha, vista por um telescópio é mais ou menos homogênea.
Já vendo de um microscópio, passa a ser um país com muitas complicações. Nos
últimos 7 anos, passou de uma situação de euforia (desde a década de 80 aliou
muito fortemente democracia e bem estar social, harmonia com consensos básicos)
para pânico, num "círculo infernal". A crise é pior que apenas econômica.
Há possibilidades de recuperação, mas com várias indagações. Recuperar o que?
Como?
A Europa atingiu os mais altos índices de proteção social e
cidadania. Agora, com a crise, não se "reconhece no espelho". No caso
da Espanha, não há um parênteses. Dificilmente se voltará aos altos índices de
consumo, especulação e hedonismo das últimas décadas. Encerra-se, então, uma
etapa, com a Espanha se convertendo a um país modesto. É hora de se apostar no
desenvolvimento territorial sustentável.
Os políticos não podem acreditar nas suas próprias mentiras e
nem os cidadãos podem abdicar de suas responsabilidades cívicas. Por isso a
crise não é somente econômica e também ética.
A Espanha triunfal passou pela transição política(59/73-82),
modernização socialista(82/96), volta da direita(Aznar 96/04) e, por fim, o
governo Zapatero (o bom falante 04/11).
A crise perpassa pela negativa de Zapatero (2007), a derrota
não aceita do PP em 2004 e sua vitória em 2011 alegando que o problema era de
credibilidade. Por fim, em 2014 as eleições despencam com menos de 50% dos
votos para o bipartidarismo. O país despencou de 8º Pib Mundial para 14º.
Dentre as complicações, estão os 17 departamentos, com quatro
línguas. A informalidade é muito grande. O desemprego na juventude entre 16 e
19 está em 90%, de 20 a 24, 70%.
As melhoras previstas até o momento são macroeconômicas.
Como a Espanha chegou até aqui?
Surge uma bolha imobiliária. Aznar cria a Lei do Solo(98),
por meio da qual todo terreno passa a ser urbanizado, podendo-se construir em
qualquer lugar. Isso gerou um movimento potente em relação à demanda de mão de
obra. Esgotou-se a mão de obra local e passou-se a buscar imigrantes. Em 2002
faz uma reforma trabalhista. Logo, todos
deveriam querer comprar suas casas.
Em vez dos preços caírem pelo excesso de demanda e geração de
empregos, ocorreu o contrário. O m2 construído passou de 915 euros para 2905
euros. O desemprego cai de 23% para 9%, mas os salários ficaram estáveis. A
insolvência aumentou muito. Buscou-se crédito para pagar. Não dava. Hipotecava
a casa e ainda recebia dinheiro, que usava para consumo. Isso gerou euforia.
Nesse clima a Espanha triunfava. Tudo funcionava enquanto
fluía o crédito. A crise do subprime americana
(2007) secou as fontes de créditos para os bancos espanhóis. Clientes
ficam inadimplentes, mercado satura, imóveis encalham e instala-se o pânico.
Começa o ciclo infernal. Menos cosumo gera menos arrecadação
pública e prejudica-se o atendimentos das demandas sociais.
Nesse contexto, não se perde apenas dinheiro, credibilidade,
confiança, prestígio e estado de bem-estar. Perde-se também muita qualidade
democrática, conformada pós ditadura, pós constituição de 78. O bipartidarismo
se desfez.
O que falta para vencer a crise?
A geração de espanhóis melhor formada da história, que estuda
em todas as partes do mundo. Eles tem uma "Cara B", são os que
deixaram seu trabalho originário, de sua formação, para ir trabalhar na
construção civil, que pagava melhores salários. Ainda há um bom nível de inovação
e pesquisa, que devia ser melhor cuidada. A capacidade de empreendedorismo
ainda é muito boa, também no âmbito internacional. Também a qualidade de vida é
alta, com educação e saúde pública com enorme prestígio. Por fim, os ativos
naturais ainda são muito atrativos. Resta saber como administrar esse cenário.
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